ME DESCOBRINDO NEGRA

Memórias da Plantação
12/02/2020. Curitiba. “Preta nojenta, escrava, verme”, escreveu pelo aplicativo op condutor do Uber cuja corrida Isabella cancelou. “por que você pede o carro se você não precisa do carro? Sua filha da puta, preta do caralho. É um verme! Gente como você a gente trata como verme! Não tem nada para fazer? Arruma um trabalho, sua arrombada!”
Esta notícia relato é descrito por Maria Elvira Díaz-Benítez em “Apresentação Vidas negras: pensamento radical e pretitude” (In AAVV, Pensamento Negro Radical, S.Paulo, Crocodilo ed., p.9. 2021). Ela surge como uma nota de recordação que se soma a tantas outras que diariamente vão ocorrendo à vista de toda a gente ou invisibilizadas, noticiadas ou não, com consequências legais ou apagadas dos tribunais, mas que nos fazem permanentemente pensar que existe um regime necropolítico e de violência perpetuado pelos Estados, no quotidiano e nas instituições a que Grada Kilomba chamou de Memória da Plantação.
“Memórias da Plantação explora a atemporalidade do racismo quotidiano. A junção destas duas palavras, “plantação” e “memórias”, descreve o racismo quotidiano não como mera reencenação de um passado colonial, mas como realidade traumática que tem sido ignorada. É um choque violento que, de repente, põe o sujeito negro numa cena colonial onde, como no cenário de uma plantação, é aprisionado como o “outro” subordinado e exótico. Inesperadamente, o passado coincide com o presente, e o presente é vivido como se o sujeito estivesse nesse passado agonizante, como o título deste livro anuncia.” (In Grada Kilomba (2008)2019, Memórias da Plantação, Orfeu Negro, Lisboa, pp. 25-26.)